Olá amigos do Blog. Vimos em matéria anterior o naufrágio de um avião
não identificado em Vanuatu. Foi um pouco frustrante.
Desta vez estávamos em Palau, um pequeno país insular da
Micronésia, formado por oito ilhas principais e que durante a II Guerra Mundial
foi base operacional japonesa, local palco de inúmeros combates. Com apoio da
eficiente operadora Fish´n Fins, realizamos inúmeros mergulhos em naufrágios da
Guerra no Pacífico. Certa manhã, quando íamos fazer nosso primeiro mergulho do
dia, navegando rápido entre canais e ilhotas muito verdes, o guia Troy reduziu
a velocidade da embarcação e se aproximou de um naufrágio que, apesar da maré
enchente, rompia parcialmente a superfície do mar. Na lancha estavam a Beh
Valério, minha dupla, e dois americanos muito divertidos, o John Adams e o
Robert Palomares. Pulamos na água e fomos explorar o naufrágio. A água estava
turva e pouco deu para ver. Entre os destroços aparecia uma asa longa e
estreita, e uma peça semelhante ao tubo compressor do P-38 Lightning. Logo o
guia nos chamou para bordo e seguimos para o mergulho em um navio japonês que
estava adiante.
Retornamos mais tarde pelo mesmo caminho, só que agora a maré
estava vazante e boa parte dos destroços afloravam à superfície. Inclusive a pá
de uma hélice. Fomos para a água, estava fácil. Tínhamos talvez um metro de
profundidade. Agora sim, examinei detidamente. Era uma asa longa e estreita,
cheia de furos que eram as casas de centenas de felizes caranguejos. Não era um
P-38 e muito menos japonês. A qualidade das junções, rebites, fios de outras
partes, eram fruto de esmerado trabalho industrial, detalhes que possivelmente
não existissem mais em aviões japoneses por aquela época. Sem identificar o
tipo de avião, limitei-me a fotografar tudo.
Já em Porto Alegre, convoquei os amigos plastimodelistas para
estudarem o problema. Mesmo sabendo que todo plastimodelista é entendido principalmente
em aviação da II Guerra Mundial, demorou aparecer uma resposta convincente. Foi
o modelista Neyo Kruze quem resolveu o mistério. Tratava-se de um bombardeiro
B-24 Liberator, abatido possivelmente por fogo antiaéreo em 28 Ago 44. O avião
era pilotado pelo Capitão Willian G. Dixon e não houve sobreviventes.
Depois da guerra restos da tripulação foram regatados e
levados para o Manila American Cemetry and Memorial. Já os corpos de nove
tripulantes, inclusive o do Capitão Dixon, foram sepultados no Zachary Taylor
National Cemetery, Kentucky. Minha nossa, então aquele naufrágio era uma lápide
submarina honrando a memória daqueles homens corajosos. Que história!
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B-24 Liberator em exposição no National Museum of the USAF |
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Ponta da asa emersa na maré vazante
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Um dos motores do bombardeiro
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Com a maré vazante, boa parte do naufrágio aparece
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Nossa embarcação de apoio |
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Motor, suporte de motor e asa
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Cemitério Americano de Manila. Estive lá em 2019 procurando algum registro da tripulação |
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Buraco na asa e suporte de motor |
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cavaleirodasprofundezas@gmail.com
Nestor Antunes de Magalhães é 2º Ten R/1 do Exército Brasileiro, tendo servido os nove últimos anos de sua vida profissional no Museu do Comando Militar do Sul, Porto Alegre. É membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (FAHIMTB), mergulhador CMAS** com quatro especializações, Submarinista Honorário da Marinha do Brasil e recebeu a Medalha do Mérito Tamandaré. Mergulhou em inúmeros naufrágios por toda costa brasileira, destacando, entre outros, a participação em uma expedição exploratória no Parcel de Manuel Luís, Maranhão. Também mergulhou em naufrágios de Truk Lagoon, Hawaii, Golfo de Suez, Golfo de Aqaba, Estreito de Tiran, Estreito de Gubal e Mar Vermelho.
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