Na função de Comandante da Frota Combinada, Isoroku Yamamoto
conquistou o respeito e a admiração de seus homens. Nenhum outro oficial jamais
obteve tamanha popularidade como a que este homem ímpar conquistou. Yamamoto
não era unicamente um almirante, ele era a personificação da Marinha Imperial
japonesa durante a Guerra no Pacífico, de 1941 a 1945.
Dizem que Yamamoto tornou-se, no Pacífico, o desconforto dos
almirantes da US Navy, assim como Rommel, na Líbia, era para os generais
ingleses. Em abril de 1943, criptógrafos da Marinha americana interceptaram e
decifraram uma mensagem em código japonesa onde constava todos os detalhes de
uma viagem aérea de Yamamoto. Ele ia inspecionar algumas bases e postos
avançados japoneses localizados em Papua-Nova Guiné, isto no dia 18 de abril de
1943. Os americanos então organizaram rapidamente a Operação Vingança que iria
se tornar a mais notável interceptação aérea da II Guerra Mundial. Era um longo
voo de Guadalcanal, Ilhas Salomão, até Bougainville, Papua-Nova Guiné, posição
onde se planejava abater o avião do almirante. Seriam quase 2.000 km a serem
vencidos por 16 caças P-38 Lightning que receberam dois taques suplementares
descartáveis de combustível para alcançar tal autonomia. Estes aviões era do
Esquadrão 339 comandados pelo Major Mitchel.
Yamamoto era pontual pois na hora, altitude e rumo exatos, os
dois bombardeiros Betty onde viajavam o almirante e seu staff, bem como uma escolta de caças Zeros, foram avistados pelos
P-38. Seguiu-se feroz combate aéreo e os dois bombardeiros, apesar da
resistência obstinada dos seis Zeros da escolta, foram derrubados. O avião do
almirante caiu em plena selva ao sudeste da Ilha de Bougainville, nas
proximidades de Buin. O outro bombardeiro despencou no mar. Os americanos
perderam um Lightning mas a missão foi cumprida. O corpo do almirante Yamamoto
foi encontrado fora dos destroços, preso em seu assento, com buracos de balas
no ombro e parte inferior da cabeça. Possivelmente teve morte instantânea a
bordo do avião. Ainda segurava o seu sabre de samurai.
Queria
conhecer a clareira onde estavam os destroços do Betty do almirante. Isto era
História. Assim, viajei mais de 3 horas em um Jeep Toyota por estradas medonhas
na selva e rios de Bougainville. O motorista, veloz e furioso, me manteve
assustado por todo este tempo. Junto, seguia o guia, conhecedor do local onde
estava o avião e tão maluco quanto o primeiro. Que coisa!
Alcançamos um determinado ponto onde havia algumas choupanas muito
humildes e dali em diante prosseguimos a pé. Tinha chovido durante a madrugada
e a selva se apresentava gosmenta, úmida, infestada de malária. Poças de lama
pegajosa e fétida se estendiam por toda a parte. Foi um verdadeiro suplicio
pois eu tinha um ferimento no pé. Três dias antes, em um mergulho no naufrágio
de um Zero em Simpson Harbour, Rabaul, havia cortado o pé em um coral afiado.
Agora cada passo naquela trilha miserável era um sacrifício. Com pouco mais de
uma hora de marcha, começaram a aparecer pedaços das asas do avião e não muito
tempo depois a trilha desembocou na pequena clareira. Lá se encontrava dormitando
o bombardeiro Betty. Emocionante! Do meio para a cauda estava relativamente
inteiro. Com o leme e a rechonchuda fuselagem esburacados pelas balas dos
Lightnings e retalhado pelos caçadores de relíquias. Um dos grandes motores
radiais jazia em plena clareira, com as três pás da hélice cordadas à serra.
Uma pena. A cor verde original da camuflagem, por causa de alguma reação
química provocada pelo intemperismo de 74 anos, havia se modificado para traços
avermelhados. O interior do avião também apresentava marcas de projéteis .50 e
um ou outro rasgão de granadas de 20 mm.
Permanecemos
pouco mais de duas horas no local e, antes de partir, pude confirmar com o
auxílio de uma bússola que e orientação do bombardeiro quando caiu era de norte
a sul.
A volta foi
tão ou mais cansativa do que a vinda, mas eu trouxe comigo a história e um
momento inesquecível.
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Almirante Yamamoto |
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O P-38 Lightning dispara a queima roupa contra o Betty do Almirante |
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A fuselagem se encontra orientada de norte a sul |
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Posição do artilheiro de cauda com o canhão de 20 mm |
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Um dos motores radiais com as pás das hélices serradas por caçadores de relíquias |
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Posição lateral da metralhadora |
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Interior da fuselagem do bombardeiro |
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Junto à posição do canhão de 20 mm |
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Com os guias |