Uma boa lembrança que ainda perdura na memória, é a história sobre o encouraçado-de-bolso
Admiral Graf Spee, contada à exaustão por minha mãe. Ela costumava até a
cantarolar para mim uma marchinha do Carnaval de 1940. Enfeitada com uma rima
forçada e o refrão era: “ Sou marinheiro do Graf Spêêêê”.
Ela tinha vivido aquele tempo, eu era muito pequeno, e ali começava o
gosto pela História Militar. Depois apareceu a série na televisão
Aventura Submarina, onde o ator Lloid Bridges personificava o herói
mergulhador Mike Nelson, no início dos anos 60, bem antes de Cousteau.
Pronto. Bala na mosca! Todo guri queria ser mergulhador!
Foi
por esta época que comecei a ter um interesse especial pela Batalha do
Atlântico e as operações de combate dos U Boats, os submarinos alemães,
nesta que é considerada a mais longa batalha da II Guerra Mundial. Tão
extensa que alguns autores consideram-na como campanha
Os
U Boats foram a mais letal arma da Alemanha e por muito pouco não
derrotaram a Inglaterra, modificando o desenlace da II Guerra Mundial.
E, quando a maré do conflito mudou, nunca na história de todas as
guerras desta pobre Humanidade, uma força militar sofreu tal percentual
de baixas e continuou lutando tenazmente, ameaçando e retendo imensos
recursos humanos e materiais dos Aliados, isto até o fim.
Foi
então que eu senti. Estava definitivamente fascinado pela história da
guerra dos U Boats, das suas façanhas e dos homens destemidos que, mesmo
por uma causa errada, haviam lutado sob as ondas como ninguém jamais o
fizera. Que história.
Ah, ser mergulhador? Bem, aconteceu muito tempo depois e como foi difícil para mim!
Tinha
sido convidado por dois colegas do Exército para realizar um curso
básico de mergulho. Não aceitei, pois não sabia nadar (não sei até hoje)
e, consequentemente, tinha medo da água. Matriculado à força, fui
chantageado a continuar em aula, sob pena de que a minha covardia fosse
tornada pública no quartel. E foi duro, um verdadeiro martírio. Era o
pateta da turma, o cara que agarrava o cinto de lastro pela fivela ou
aquele que andava com a máscara na testa. O infeliz que estourava o
o-ring ao desatarraxar o primeiro estágio do cilindro sem despressurizar
o circuito. Um desastre total, quer na água da piscina ou fora dela.
Era o Patinho Feio da turma, como havia sido rotulado por um impaciente e
irritado monitor. Que coisa triste!
Mas o
Patinho Feio era um cisne e não sabia. E aí deu o estalo, caiu ficha, já quase no final do curso. Assim consegui com mérito a minha
certificação CMAS. Mesmo sem saber nadar, havia descoberto ter um
talento...hummm...digamos...subaquático, à semelhança de uma foca feliz.
Entretanto, posso afirmar com certeza, ser mergulhador foi a tarefa
mais árdua de toda a minha vida.
Nestor Antunes de Magalhães é
2° tenente R/1 do Exército Brasileiro, tendo servido os nove últimos anos de
sua vida profissional no Museu do Comando Militar do Sul. É membro da Academia
de História Militar Terrestre do Brasil, mergulhador CMAS duas estrelas com seis
especializações (Noturno, Naufrágio, Orientação, Nitrox, Roupa Seca e
Salvatagem. Submarinista Honorário da
Marinha do Brasil, Medalha Mérito Tamandaré e autor dos livros U Boats, De Truk
a Narvik e De Guadalcanal a Creta - Mergulhando na História. Mergulhou em
inúmeros naufrágios por toda a costa brasileira, destacando entre outros, a
participação em uma expedição exploratória nos naufrágios do Parcel de Manuel
Luís, Maranhão. Também mergulhou em naufrágios da Costa Leste americana, México,
Mar Negro, Golfo de Biscaia, Costa Norte de Portugal, Grécia, Truk Lagoon,
Havaí, Golfo de Suez, Golfo de Aqaba, Scapa Flow, Ilha Hakoy, Narvik,
Guadalcanal, Malta, Palau, Croácia, Normandia, Rabaul, Vanuatu, Coron e Guam.